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05/12/2023 09h45 Atualizado 05/12/2023

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Wisam Tamimi completou 17 anos em 6 de junho. Tr�s dias depois, cerca de 50 soldados israelenses invadiramjogo do pou gr�tiscasa no meio da noite, e, com uma enxurrada de insultos, o levaram com as m�os algemadas nas costas e os olhos vendados. Uma vez em um posto militar na Cisjord�nia, os militares o for�aram a se ajoelhar. Ele ficou assim por cinco horas, explicou dejogo do pou gr�tiscasa, a cerca de 20 km de Ramallah, ap�s ser libertado em troca de ref�ns israelenses, na semana passada.

Deslocamento afeta quatro em cinco palestinos: Guerra for�a morador de Gaza a se mudar pela 3� vez em 60 diasV�deo: Israel explode Supremo Tribunal de Gaza 'em mem�ria dos assassinados' pelo Hamas

Eles tinham tirado seu casaco e ele sentiu frio, lembrou. Depois, o levaram para a pris�o de seguran�a m�xima de Ofer, onde o despiram completamente, fizeram uma revista e o trancaram por cinco dias em uma cela de isolamento. Durante esse tempo, ele s� via os israelenses que o interrogavam �das 11h da manh� at� �s 21, 22h da noite�. A comida era �escassa� e as amea�as, constantes. Sobretudo a amea�a de que, se n�o confessasse, o Ex�rcito israelense demoliria a casa de seus pais. Queriam que ele assinasse alguns pap�is em hebraico que ele n�o entendia.

Wisam � um dos 171 adolescentes soltos em troca da liberta��o de ref�ns mantidos pelo Hamas durante a breve tr�gua na Faixa de Gaza, de acordo com dados de Abdallah Zughary, presidente da ONG Palestinian Prisoners Club. A maioria, 107, s�o menores entre 14 e 17 anos. Os outros 64 j� t�m 18 anos, mas n�o tinham completado a maioridade quando foram detidos. Tr�s em cada quatro desses jovens n�o foram condenados por nenhum crime, segundo dados oficiais de Israel.

Al�m dos primeiros cinco dias de isolamento, Wisam passou outros 35 sozinho em um centro de interrogat�rios em Jerusal�m, numa cela em que mal conseguia ficar em p� � ele mede 1,83m � nem dar mais de tr�s passos, explicou. Foi nesse per�odo de um m�s, submetido a interrogat�rios constantes e com uma luz na cela que piscava sem parar, que disse a si mesmo que �mais cedo ou mais tarde iria perder a raz�o�.

Cerca de 80 menores ainda est�o presos

Antes de 7 de outubro, quando o Hamas matou 1,2 mil pessoas em Israel em um ataque brutal sem precedentes, pelo menos 250 adolescentes palestinos estavam detidos nas pris�es israelenses, explicou o presidente do Palestinian Prisoners Club.

Ap�s a troca pelos ref�ns em Gaza, restam cerca de 80 menores nas penitenci�rias de Israel, de acordo com a organiza��o. Nas oito semanas desde o in�cio do conflito, outros 800 foram detidos em algum momento, embora a maioria tenha sido libertada posteriormente.

Os menores palestinos em pris�es israelenses, sejam do territ�rio ocupado da Cisjord�nia ou de Jerusal�m Oriental, est�o sujeitos � jurisdi��o militar. Quando s�o julgados, o que muitas vezes n�o acontece, comparecem perante tribunais militares cuja taxa de condena��o � de mais de 99%, de acordo com o Departamento de Estado dos EUA. Os tribunais militares julgam apenas menores palestinos. No raro caso de um menor judeu ser detido, a lei civil � aplicada.

� As crian�as palestinas podem ser presas em qualquer lugar, em controles, a caminho da escola, durante opera��es em cidades e campos ou at� mesmo em suas pr�prias camas � explicou Francesca Albanese, relatora especial da ONU sobre Direitos Humanos nos Territ�rios Ocupados da Palestina, em 28 de outubro, diante da Assembleia Geral das Na��es Unidas.

Desde 2000, 13 mil menores palestinos foram detidos, interrogados, julgados e presos em Israel.

Crian�as s�o agredidas e amea�adas

Em 1991, Israel ratificou a Conven��o da ONU sobre os Direitos da Crian�a, que estipula que os menores s� devem ser privados de liberdade como medida excepcional, n�o devem ser detidos arbitrariamente e n�o devem ser submetidos � tortura, tratamentos ou penas cru�is. A realidade, registrada no relat�rio �Indefesos� de 2023 da ONG Save The Children, � que Israel condena � reclus�o penal, considerada pela ONU como �um �ltimo recurso�, 99% das crian�as palestinas julgadas.

A Save The Children entrevistou 470 crian�as, detidas entre os 10 e os 17 anos, para elaborar o documento. Quase um em cada quatro relatou �socos, tapas, empurr�es ou pontap�s� durante a deten��o. Uma vez encarceradas, �81% foram agredidas e 43% apanharam v�rias vezes�, 88% n�o receberam a aten��o m�dica de que precisavam e a 46% foi negada alimenta��o e �gua. Mais da metade foi amea�ada durante os interrogat�rios, e 73% teve que assinar documentos em hebraico.

Nenhum desses menores foi assistido por um advogado durante os interrogat�rios. Um n�mero menor sofreu maus-tratos, como �soltura de c�es ou saco pl�stico na cabe�a�, diz o relat�rio, pontuando que os palestinos �s�o as �nicas crian�as do mundo sistematicamente julgadas em tribunais militares, que invariavelmente n�o oferecem julgamento justo e violam as normas de justi�a para menores�. Em 2013, a UNICEF considerou que os maus-tratos a crian�as no sistema de deten��o militar israelense s�o �generalizados, sistem�ticos e institucionalizados�.

'Atirar pedras' � pun�vel com at� 20 anos

A hist�ria de Wisam � um exemplo do que exp�e o relat�rio. O estudante do ensino m�dio foi detido ap�s ser ferido por militares israelenses. Oito dias antes, enquanto estava no telhado da casa de seus tios, uma bala de borracha atingiujogo do pou gr�tiscabe�a e fraturou seu cr�nio. O jovem seria acusado � as acusa��es n�o foram formalizadas � de crimes como �plantar uma mina terrestre�, �posse de armas e explosivos� e, o mais comum: �atirar pedras�, pun�vel com at� 20 anos de pris�o.

De casa, Wisam v� a estrada exclusiva para judeus que leva ao assentamento de Halamish. A viol�ncia causada por esses assentamentos ilegais, constru�dos em terras usurpadas dos palestinos, tamb�m se reflete na deten��o e encarceramento de menores. A ONG Military Court Watch calculou em 2023 que os menores palestinos presos viviam, em m�dia, a 900 metros de uma dessas col�nias.

Deten��o administrativa sem revelar a acusa��o

Em Ramallah, Ahmed mostra uma marca em seu pulso. � a cicatriz de algemas de pl�stico t�o apertadas �que o fizeram sangrar�. O jovem, de 19 anos, que n�o revela seu nome verdadeiro por quest�es de seguran�a, tamb�m foi libertado na troca com o Hamas. Na primeira vez que foi detido, ele tinha 13 anos. Um grande n�mero de soldados invadiujogo do pou gr�tiscasa �s tr�s da manh�, e ele foi levado algemado para uma base militar.

L�, afirmou, foi obrigado a se despir para ser registrado. Ele foi acusado de atirar pedras, e condenado a um ano de pris�o. Sua fam�lia, por�m, conseguiu evitar o caso pagando uma multa de 12 mil shekels (cerca de R$ 16 mil). Em setembro de 2023, os militares o detiveram novamente. Como o jovem, ent�o com 17 anos, n�o estava em casa, levaram seu irm�o. No mesmo dia, Ahmed se entregou.

Na ocasi�o, ele foi novamente acusado de atirar pedras, e condenado a quatro meses de pris�o. Quando estava prestes a cumprirjogo do pou gr�tispena, o tribunal militar prolongou o encarceramento com mais seis meses. As v�timas dessa figura legal s�o retidas sem julgamento e com base em supostas provas que n�o s�o reveladas aos acusados, ent�o o preso n�o sabe do que est� sendo acusado nem quando sair� da pris�o. Esse tipo de deten��o pode ser prorrogado a cada seis meses sem limite de tempo.

Segundo Abdallah Zughary, h� cerca de 20 crian�as ainda detidas dessa forma nas pris�es israelenses. Mohamed Abu Ayyash, de 18 anos, � outro exemplo de jovem que foi libertado na troca com o Hamas. O relato que fez emjogo do pou gr�tiscasa em Ramallah �, mais uma vez, semelhante ao de seus colegas encarcerados: uma pris�o violenta aos 17 anos, de madrugada e por for�as especiais que �cercaram a casa�.

Ele tamb�m recordou a transfer�ncia amarrado com algemas de pl�stico e de olhos vendados. Um interrogat�rio de �12 horas� em uma base militar e uma nova transfer�ncia em que os soldados o arrastaram segurando aquelas algemas. Depois, a comida escassa � iogurte, p�o e �meio quilo de homus para 40 presos� � e o confinamento com adultos, proibido pelas leis internacionais. Em seguida, a deten��o, cuja �ltima prorroga��o estava a poucos dias de ser cumprida quando foi solto.

Segundo as investiga��es, ela estava morando no Complexo da Penha com apoio de criminosos da regi�o

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